Apoio a Musk une judeus a neonazistas
O que devo fazer para me manter
alinhado a princípios morais que decidi considerar adequados, aí considerados,
obviamente, o necessário respeito à constituição e às leis, como estabelecem os
princípios democráticos? Já de início observo não ser esse necessariamente o
caminho mais fácil para alcançar o que desejo. É que, muitas vezes, a mentira,
a desonestidade e a canalhice facilitam o tráfego, ainda que por caminhos
tortuosos.
O texto traduz o pensamento do
filósofo Clóvis de Barros, para quem há que se manter a conveniente distância
sideral moral e moralismo no universo das paixões humanas. “O que devo fazer?
Pergunta ele para adiantar: Uma coisa é a reflexão sobre a própria conduta,
sobre a própria dignidade. Outra coisa é a avaliação da conduta alheia. É essa
a diferença entre a moral – reflexão que começa e termina na primeira pessoa do
singular – e o moralismo, que é a análise do comportamento alheio, o hábito de
apontar o dedo na direção do outro”.
Se você pergunta o que tem isso a ver
com o personagem bilionário Elon Musk, a resposta é um óbvio “tudo!” Há, no
momento, uma multidão de pessoas dando tratos à bola para entender: o que teria
levado o sujeito a atacar, com todo o poderio de postagens pessoais agressivas,
o Judiciário e o governo brasileiros, em sua rede social, o “X”, antigo
Twitter. É óbvio que fez porque pode fazer. Mas não é apenas isso. Sua
preocupação imediata é criar polêmica e despertar paixões para atrair leitores
e parar de perder dinheiro com o brinquedo que comprou.
“Simples demais? Nem tanto, se considerado que a rede acabou reduzida a
menos de um terço do valor de mercado ou daquilo que Musk pagou ao adquirir seu
controle dos antigos proprietários do Twitter. Elon Musk é um visionário
bem-sucedido. Do nada, virou um dos homens mais ricos do mundo. Não criou coisa
alguma, mas soube aproveitar, como ninguém, as oportunidades de negócios, como
o carro elétrico e variantes da revolução tecnológica. Os bilhões de dólares
chegaram praticamente por gravidade.”
Observe-se que seus ataques
produziram toda a reação que esperava. Claro que ele sabia dos riscos. Mas nada
que não possa corrigir apenas deixando de fazer o que prometeu. Nenhuma atitude
efetiva. Na prática, tudo dentro da propalada liberdade de expressão que
esgrime quando lhe convém. O resto é lucro. Até mesmo a repercussão, mundo
afora, junto a lideranças cujo isolamento os faz aplaudir qualquer ajuda, mesmo
que vinda do espaço sideral. Ou de marte.
Exemplo disso foi a manifestação do
ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, que se juntou ao
empresário para atacar o governo brasileiro. Não importa, no caso, se Elon Musk
é amigo de notórios inimigos de Israel, especialmente grupos neonazistas ou o
governo chinês, aliado declarado do Irã. Ou comunistas como a Coréia do Norte
ou a Rússia, que inclusive usa drones iranianos na guerra contra a Ucrânia.
Outro exemplo é o do governo
argentino, cujo presidente se oferece para abrigar um eventual “X” portenho
contra autoridades brasileiras, ao mesmo tempo em que manda sua chanceler,
Diana Mondino, visitar o Brasil. Ela trouxe na bagagem uma carta “de presidente
para presidente”, na qual o argentino defende a manutenção de uma boa relação
bilateral entre os dois países. Vá entender!
O flerte – melhor dizendo
comprometimento declarado – da plataforma de Elon Musk com o neonazismo foi
comprovada em audiência no Senado brasileiro pelo jornalista americano Michael
Shellenberger, responsável pelo “Twitter Files”. O jornalista é aquele que
acusou o STF de ter exigido, com ameaças, dados pessoais de investigados. E
depois admitiu ter mentido. Ele disse ter achado “incrível” a decisão da
Suprema Corte dos Estados Unidos de permitir que neonazistas fizessem manifestação
em bairro judeu de fugitivos do holocausto.
O que se constata é que o pote de
ouro que buscado no arco Iris das redes sociais está na conquista e mobilização
de usuários. E o caminho mais fácil para acicatar paixões de espíritos
insatisfeitos não passa, infelizmente, como adverte o filósofo, pela dignidade
pessoal. Ele trilha a via deletéria do moralismo, da mentira e do engodo.
* Andrey Cavalcante é ex-presidente e membro honorário vitalício da OAB Rondônia
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